terça-feira, 4 de janeiro de 2011

“No interior de grandes períodos históricos, a forma de percepção das coletividades humanas se transforma ao mesmo tempo que seu modo de existência” (BENJAMIN, 1993: 169).




O museu tem, com a Biblioteca e o Arquivo, algumas características em comum: são eles os depositários da memória coletiva, o que não se resume apenas à manutenção e conservação das coleções. Envolve também a exposição desse acervo para as pessoas de forma a prover o rápido acesso e recuperação dos objetos ou informações desejados, o que leva à necessidade de um trabalho interno de identificação, catalogação e de classificação, seja uma coleção de livros, de quadros ou de vasos etruscos. No entanto estas operações não surgem com o museu, nem com a biblioteca e nem com o arquivo, mas com a coleção, seja ela qual for, e estão (as operações) muito próximas - na sua origem - com as classificações dos seres e do conhecimento.

Walter Benjamim já havia enfocado a reprodução técnica como uma idéia libertadora: “Retirar o objeto de seu invólucro, destruir sua aura, é a característica de uma forma de percepção cuja capacidade de captar ‘o semelhante do mundo’ é tão aguda, que graças à reprodução ela consegue captá-lo até no fenômeno único. (...) com a reprodutibilidade técnica, a obra de arte se emancipa, pela primeira vez na história, de sua existência parasitária, destacando-se do ritual. A obra de arte reproduzida é cada vez mais a reprodução de uma obra de arte criada para ser reproduzida” (BENJAMIN:1993: 170,171.

Benjamin percebe estas mudanças na virada do século XIX para o XX com a fotografia e o cinema. O retrato seria o último suspiro do valor de culto, que aos poucos é substituído pela imagem, que demanda uma percepção diferente por parte do observador “ao suscitar o entendimento da fotografia como uma nova possibilidade de leitura do mundo e de investigação da realidade, e não como possibilidade de contemplação” (Idem, ibidem). É através da identificação dos indícios, marcas e vestígios presentes na fotografia que se lê o acontecimento “de uma realidade revelando-se” (Idem, ibidem). Benjamin fala de um “inconsciente ótico” para descrever aquilo que está fora do “espectro de uma percepção sensível normal” e que a câmera consegue captar e oferecer à visão. O instante ‘congelado’ do andar, a ampliação de pequenos objetos, enfim o uso da técnica e da ciência para ampliar o espectro da percepção ‘normal’.