quarta-feira, 25 de maio de 2011

Morre o pai do Teatro Experimental do Negro - ABDIAS DO NASCIMENTO

Faleceu nesta manhã de terça, 24, no Rio de Janeiro,  o escritor Abdias do Nascimento. Poeta, político, artista plástico, jornalista, ator e diretor teatral, Abdias foi um corajoso ativista na denúncia do racismo e na defesa da cidadania dos descendentes da África espalhados pelo mundo. O Brasil e a Diáspora perdem hoje um dos seus maiores líderes. A família ainda não sabe informar quando será o enterro. Aos 97 anos, o paulista de Franca, passava por complicações que o levaram ao internamento no último mês. Deixa a esposa Elisa Larkin, o filho e uma legião de seguidores, inspirados na sua trajetória de coragem e dedicação aos direitos humanos.  



          Nos anos 30, participou da Santa Hermandad Orquídea, formada por poetas sul-americanos. Nos anos 40, criou o Teatro Experimental do Negro. Também fundado por ele, o Comitê Democrático Afro-Brasileiro, advogou por direitos para as empregadas domésticas e políticas afirmativas para a população negra, propostas levadas à Assembleia Nacional Constituinte de 1946.
          Escritor, intelectual, ativista, ator e escultor, Abdias exilou-se nos Estados Unidos em 1968, durante a ditadura militar. Participou, no Caribe, na África e nos Estados Unidos, de vários encontros do movimento internacional pan-africanista. Retornou ao Brasil em 1978.
          Entrou para a política partidária e foi deputado federal pelo PDT de Leonel Brizola, de 1983 a 1987. Suplente de Darcy Ribeiro (1922-1997), Abdias exerceu mandato de senador de 1997 a 1999. Apresentou vários projetos com objetivo de combater o racismo e buscar reparação, em razão do escravagismo, à população afrodescendente brasileira.
          No segundo governo de Brizola no Rio de Janeiro, Abdias foi titular da Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras (Seafro). Professor benemérito da State University of New York, recebeu título de doutor honoris causa pela Universidade de Brasília (UnB) e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em função da militância no combate à discriminação racial no Brasil.
Casado quatro vezes, Abdias Nascimento teve três filhos e deixou amplo acervo.
         No início da noite desta terça-feira, a  família informou que o corpo de Abdias Nascimento será velado nesta quinta-feira, dia 26 de maio, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, cremado no dia seguinte , no Cemitério São Francisco Xavier e suas cinzas jogadas na Serra da Barriga, conforme era seu desejo.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Lançamento do Portal para os Clubes Sociais Negros do Brasil


Temos a honra de encaminhar, em anexo, o convite para o lançamento do “Portal para os Clubes Sociais Negros do Brasil”, que se realiza no dia 13 de maio de 2011, quando o Clube Afro-Ferroviário Treze de Maio de Santa Maria completa 108 anos de existência e resistência.

Sua presença será uma honra para nós, pois esta é uma demanda nacional apontada na Carta de Santa Maria (2006), que vem para dar visibilidade ao Movimento Clubista Negro, com o apoio da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Governo Federal, a SEPPIR.



MUSEU DO TRABALHO APRESENTA:


aminhar, contar, fotografar, desenhar
 
100 caminhadas, 200.000 passos, 2.000 fotos, 2.000 desenhos
 
contar, medir, dividir, construir, desconstruir, reconstruir
imagens e vídeos a partir de desenhos baseados em fotos
captadas a cada cem passos de uma caminhada de
dois mil passos repetida cem vezes 

Abertura dia 3 de maio, terça, às 19 horas
 
Em cartaz até 19 de junho de 2011
 
Apoio: BD Divulgação / Vinícola Salton

segunda-feira, 2 de maio de 2011

ESTUDOS SOBRE PATRIMÔNIO 30 DE ABRIL DE 2011 CAMAQUÃ RS


I - Arquiteto Adroaldo XavierAuditor Público Externo do TCE/RS - modalidade Arquiteto e Urbanista, Professor Universitário e Membro do ICOMOS-BR, pela manhã, às nove e meia, no Núcleo de Pesquisas Históricas de Camaquã (3671 4485 - Olavo Moraes, 444 - 2º Andar), falando sobre Legislação em Preservação, com o apoio da Secretaria de Cultura e Turismo. O público alvo são os membros do Conselho Municipal de Preservação Histórica e Cultural e mais a comunidade interessada.
Ao meio-dia, almoço por adesão no Galles  (3671 9435  - Olavo Moraes, 634, junto ao Clube Camaqüense).
II -Reunião mensal da Rede de Educadores em Museus, para discutir e compartilhar informações sobre ações educativas em museus, memoriais, casas de cultura. O trabalho da REM - RS pode ser conferido no endereço(http://remrgs.blogspot.com/).  A reunião, cujo tema será Educação Patrimonial, acontecerá  no Telecentro da Câmara (9983 9377 - Rua João de Oliveira, 147, Centro Histórico), a partir das catorze horas é aberta a professores, estudantes, pesquisadores e demais interessados no assunto.
Na reunião serão apresentadas as ações educativas desenvolvidas pelo Arquivo Público do Estado do RS; bem como o trabalho local do Memorial da Câmara de Camaquã; do Núcleo de Pesquisas Históricas de Camaquã; o Projeto Abraçando a Biblioteca, da Secretaria Municipal de Cultura. Pelo Arquivo Público, falarão:
- Maria Cristina Kneipp Fernandes, Arquivista, Chefe da Divisão de Pesquisa e Projetos do APERS. Falará do Arquivo Público enquanto espaço educativo e cultural e da criação do Projeto Educação Patrimonial, executado em parceria com a UFRGS.
- Natália Souza Silva, Historiadora, Monitora do Projeto Educação Patrimonial pela UFRGS. Falará das oficinas oferecidas, metodologias de trabalho e resultados.
A reunião também contará com a presença do Professor Xavier.
Para os presentes nas duas atividades será expedido certificado de oito horas.
Manhã - 9h e 30 min – Núcleo de Pesquisas Histórica: Palestra com Adroaldo Xavier sobre subsídios legais em preservação.

Tarde – 14 horas – Telecentro da Câmara de Vereadores de Camaquã: Reunião da Rede de Educadores de Museus de abril, sobre Educação Patrimonial.


Telecentro da Câmara - Local da Reunião REM-RS
Horário:14:00
Data: 30/04/2011
Endereço: Rua João de Oliveira, 147, Centro Histórico
Cidade: Camaquã



Exposição em Londres fala sobre a relação da sociedade com a sujeira

Por volta de 1860, Joseph Lister, um pioneiro na cirurgia estéril, transformou a enfermaria real de Glasgow em um modelo de limpeza e eficiência

LONDRES - Sujeira. Porcaria. Esterco. Fuligem. Resíduo. Lixo. Refugo. Entulho. Imundície. Detrito. Podridão. Escombro.

Por mais desagradável que possa soar, as coisas nojentas que preferimos não ver, cheirar ou tocar são o objeto da interessante exposição "Dirt: the Filthy Reality of Everyday Life” [Sujeira: a Imunda Realidade do Cotidiano] no Wellcome Collection, em Londres. Em cartaz até 31 de agosto, ela explora como a relação da sociedade com a sujeira e outros resíduos indesejados mudou através dos séculos.
 
Um subtexto da exibição fala do papel do design ao nos ajudar a lidar com isso: desde os mais surpreendentemente sofisticados escoadouros, fossas e esgotos da antiga Babilônia à pilha de lixo do aterro Fresh Kills em Staten Island, Nova York, que ficou mais alto que a Estátua da Liberdade. É um tema oportuno, porque nossas expectativas de como o design deve resolver o problema do que fazer com o lixo, com a sujeira e com os dejetos estão mudando drasticamente.

Desde a Revolução Industrial, os designers têm se esforçado para encontrar maneiras de eliminar sujeira e resíduos - para que o resto de nós possamos esquecê-los - em grande parte sem se preocupar com as consequências. Esta negligência causou tanto estrago que os novos desafios visam arrumar e encontrar formas mais seguras e eficazes de resolver o destino dos nossos dejetos. Uma em cada três pessoas ainda não tem saneamento básico, uma em cada oito está sem água potável, e as frenéticas favelas de cidades como Mumbai, Lagos e Nairobi estão cheias de doenças infecciosas.



Pilha de lixo do aterro Fresh Kills em Staten Island, Nova York


 O conceito de sujeira como coisa ruim e limpeza como algo bom vem sendo adotado pela religião, filosofia, folclore e pelas superstições há séculos. A ideia que "a limpeza está mais perto do divino" está enraizada em um antigo provérbio hebraico, e o contato físico com a sujeira tem sido impingido aos trabalhadores mal remunerados, à maioria das mulheres e muitas vezes aos emigrados, ao longo da história (Tony "trabalho com gerenciamento de lixo" Soprano foi uma rara exceção, e mesmo ele ganhou a maior parte de seu dinheiro em outro lugar). Kate Forde, o curador da exposição, sugere no catálogo que nossa aversão à sujeira possa advir da sua associação com a excreção, com a decomposição dos corpos envelhecidos, com a morte e outros tabus.

Até o século 18, a maioria das pessoas, mesmo os muito ricos, viviam em o que hoje consideramos uma miséria perigosa. Lavar o corpo era considerado insalubre. Roupas raramente eram limpas, e a sujeira só era removida das residências e de locais públicos por razões estéticas.

As atitudes mudaram conforme os avanços da medicina estabeleceram a ligação entre sujeira e infecção, ainda que só depois de muitas falsas iniciativas. No final dos anos 1700, a Revolução Industrial estava produzindo quantidades sem precedentes de sujeira e lixo. "Dirt" mostra quanto os extremos de sujeira e limpeza desempenharam papéis decisivos em diferentes ambientes urbanos em determinados momentos da história, e como os designers lidaram com elas, ajudando as pessoas a eliminar os dejetos e a limpar a si mesmos e seus arredores.

Ela começa na cidade holandesa de Delft, no final do século 17. A maioria dos outros lugares eram sujos na época, mas Delft era famosa por sua limpeza. Donas de casa - ou suas empregadas - dedicavam muitas horas do dia varrendo, lavando e polindo. Os motivos eram em parte religiosos: quanto mais limpa a casa, mais virtuosos os pensamentos; embora eles também tenham sido influenciados pelas descobertas de um cidadão que era decorador e virou microbiologista, Antonie van Leeuwenhoek, quem gravou a primeira observação de bactérias.

A exposição, em seguida, vai para a Londres de 1854, quando um surto de cólera matou 500 pessoas na região do Soho. O surto levou a um inquérito público no saneamento de uma cidade famosa pela poluição do ar e por depósitos de lixo gigantescos, como o Great Dust Heap, em King's Cross, onde catadores ganhavam a vida vendendo lixo.

Por volta de 1860, Joseph Lister, um pioneiro na cirurgia estéril, transformou a enfermaria real de Glasgow em um modelo de limpeza e eficiência.  Exposições sobre higiene foram montadas na cidade alemã de Dresden em 1911, e em 1930 foram extremamente eficazes na sensibilização da população para os benefícios da higiene. Seu sucesso levou à abertura do Museu da Higiene, apenas para que seus métodos fossem cooptados pelos então dirigentes nazistas como propaganda para a "pureza racial".

Um dos pontos fortes de "Dirt" é a sua recusa em se esquivar de aspectos negativos de seu conteúdo: da péssima reação à tragédia da cólera de 1854 em Londres à ocupação nazista do Museu da Higiene. Mas a exposição também comemora pontos positivos inesperados. A sujeira tem, sim, propriedades curativas, como as novas formas de antibióticos encontrados no esgoto. Ela também desempenha um papel simbólico em rituais religiosos. Entre eles está o festival anual hindu de Durja Puja na Índia, para o qual efígies da deusa Durga são feitas de palha, detritos e argila nas margens do rio Ganges, em Kolkata. O festival termina com as imagens sendo lançadas no rio e deixadas para que dissolvam na lama da qual elas vieram.

A sujeira também se tornou um improvável, porém razoavelmente confiável símbolo de virilidade econômica. O volume e a variedade de resíduos produzidos por um país são vistos como "evidência não festejada do progresso industrial e econômico", como diz a Sra. Forde no catálogo. O mesmo se aplica a empresas e indivíduos.

Embora este pressuposto seja hoje verificado pelos elevados custos humanos, ambientais e econômicos da nossa negligência do passado para com o lixo, "Dirt" termina com um exemplo particularmente insalubre em Fresh Kills. O maior aterro sanitário municipal do mundo é quase três vezes maior que o Central Park de Nova York, mas desconhecido por muitos novaiorquinos cujo lixo acabou ali. Porém, os infelizes moradores de Staten Island não tinham qualquer esperança em ignorar seu cheiro fétido. Fresh Kills foi fechado em 2001, e será reprojetado para virar um parque.

É um encerramento bastante apropriado para "Dirt", além de uma lembrança sombria de que o progresso não pode mais ser medido apenas pela quantidade de lixo a se desfazer, mas pela sensibilidade e consideração com que ele é tratado.
Alice Rawsthorn é colunista de arquitetura e design do "The International Herald Tribune" e foi diretora do Museu de Design de Londres. Os temas dos seus artigos variam de arranha-céus a alta-costura.